Não tenho pretensões nenhuma, só escrevo o que quero, quando quero e fim. Nada me define, nada me limita.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Daniel na cova dos leões

O garoto corre, as roupas ensopados grudam em seu corpo, o jeans pesado dificulta os movimentos. A chuva não dá um momento de trégua e caí em torrencial desde o início da tarde até o ocaso, intercalada por relâmpagos e trovões. O garoto corre entre becos e vielas, saltando sobre poças que se acumulam no chão, volta e meia espreita sobre os ombros para tentar ter um vislumbre dos seus perseguidores. Que ótimo! Bela maneira de começar a segunda-feira.
Teria sido um dia típico na vida de Daniel, além do fato de ser o seu primeiro dia na nova escola, na nova cidade e ter que fazer mais uma vez novos amigos. Acontece que isso também não era mais novidade, já tinha se tornado parte da rotina no auge dos seus 17 anos.
Por isso, vestiu-se o melhor que pode para se enturmar, jeans velhos e rasgados, camiseta preta de alguma banda de rock, o velho tênis all-star manchado, a mochila e os bottons, armou-se com o iphone da nova geração, típico adolescente inseguro ansiando pela aceitação da nova turma, ele já tinha passado por isso, ele sabia como era.
Resolveu chegar mais cedo ao colégio, se perdeu entre as prateleiras de livros na biblioteca enquanto esperava o tempo passar. Aquele universo o fascinava, foi fácil esquecer da ansiedade que o dominava.
Na estante de  história da raça humana tirou um grosso volume do encaixe e no grande espaço que abriu na prateleira, seus olhos se encontraram com algo que ele nunca imaginava.
Do outro lado, uma moça morena de cabelos longos folheava um livro qualquer, seus olhos se encontraram quando ela levantou o olhar e Daniel percebeu as sardas na suas bochechas e os instigantes olhos verdes que o perscrutavam. Ela é linda! pensou e encabulado desviou o olhar por um instante e no momento seguinte outro livro ocupava o lugar vago na estante. Saiu apressado, envergonhado da timidez que o acompanhava desde sempre, na inquietação não percebeu o homem que dobrava a quina da ultima parte do salão e deu de cara com ele. Os dois caíram meio embolados no chão da biblioteca, a mochila de Daniel abriu deixando cair seus livros e outros objetos pessoais, do estranho caiu o chapéu, revelando uma vasta cabeleira preta com diversas mechas e tons de cinza. O homem levantou-se rapidamente, ajeitou o sobretudo e estendeu a mão para ajudar o garoto que prontamente aceitou o auxílio. Deve estar fazendo muito frio lá fora, a mão dele tá gelada.
- Aonde o jovem vai com tanta pressa? Perguntou franzindo o cenho
- Me desculpe senhor. Não o vi. Estava indo para a aula. Justificou
- Pois bem, não quero atrasa-lo ainda mais. Assim o homem de longos cabelos prateados abaixou-se e pegou a mochila de Daniel e seus pertences que estavam espalhados pelo chão e entregou ao rapaz. O garoto então percebeu, para a sua surpresa que a íris dos olhos do homem eram estranhas. Parecem ampulhetas! Seus olhos tinham um tom febril entre a loucura e a razão e sua pele era amarelada, quase anêmica. Desculpou-se mais uma vez e seguiu para procurar a sua sala de aula.

sábado, 23 de novembro de 2013

Para Djalma



Os pés descompassados
 guiados pelo ritmo que pulsa em sua pele negra

O corpo em movimentos desconcertados,
 perdidos no espaço

A música em harmonia, ritmo, ritual e poesia

Abandonado, maltratado, renegado

Esconde do mundo a sua dor e o seu brilho no olhar

Vê o mundo por janelas escuras
esse imenso cenário de dementes

Pensa, sorri e dança

Dança, dança e dança sem parar


quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Ao infinito e além

A vida finita não se limita
se expande, se contraí
mas não se satisfaz .

O ócio é traiçoeiro,
conduz para um nevoeiro,
cega os sentidos
e nega o único objetivo
ter algum sentido.

A amizade é que o acalenta,
na noite de tormenta.
Divide o fardo,
cura as feridas
seca as lágrimas no calor de um abraço.

A ira é a pior inimiga, a intriga,
perde a noção, a razão.

O amor é o que conduz,
seduz,  a luz.
Fonte de vida infinita
que não limita, que nunca finda.