Tirou os sapatos e subiu no parapeito da ponte.
Deu dois passos vacilantes, a brisa fresca da noite balançou as madeixas loiras do seu cabelo, sentiu no rosto o gosto da liberdade.
O vestido branco flutuava ao vento.
Abriu os braços para a imensidão do vazio como que para receber um grande abraço da lua, á sua frente uma queda fatal de 300 metros, mas essa noite acreditava que poderia voar.
Sorriu, o riso dose do desapego, livre de toda a culpa ou ressentimento.
Enfim estava livre, poderia voar.
Passado o êxtase do momento, sentou-se no beiral da ponte balançando os pés.
Sentiu cócegas.
Olhou para o céu, o infinito vazio repleto de estrelas, era tudo tão perfeito, por que não poderia ficar ali para sempre?
Lembrou-se da família, dos amigos, foi quando suavemente, ele se aproximou abraçando-a por trás, sabia que era ele, ela o estivera esperando.
Seu marido, seu grande amor, o homem com quem planejou construir toda uma vida.
Ela virou-se com lágrimas nos olhos, ele sorriu, afagou seu cabelo.
Ela sabia que estava chegando a hora de ir.
Olhou uma ultima vez para o seu grande amor e fechou os olhos como que para guardar aquela imagem para sempre.
Acordou em sua cama, de imediato virou para o lado esperando encontrá-lo, mas só havia o espaço vazio que antes ocupava.
No canto do quarto a cadeira de rodas, sequela do acidente que tirou sua mobilidade e a vida do homem que tanto amou.
Suas mãos trêmulas buscaram a mesa de cabeceira , abriu a caixa de remédios e pegou três pílulas, tomou todas em um gole só.
Olhou para a estante, a imagem do amado de braços abertos sobre um precipício, eternizada em um porta-retrato.
Chorou agarrada ao travesseiro, como era imensa a sua falta.
Sua ausência estava presente em todo lugar.